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Maior do Paraná, Terra Indígena Rio das Cobras estimula formação de lideranças

Publicada em 22/05/2023 às 10:41h - 28 visualizações

por OBemDito


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Na luta pela defesa de seus direitos, famílias Kaingang e Guarani acompanham os movimentos nacionais e conseguem se fortalecer na área sociopolítica

Com uma área que se aproxima de 19 mil hectares, a Terra Indígena Rio das Cobras é a maior do Paraná; situada no centro-sul do Estado, nos municípios de Nova Laranjeiras e Espigão Alto do Iguaçu, reúne oito aldeias das etnias Kaingang e Guarani, que somam 3,6 mil habitantes.

Eles vivem nessa região entre Cascavel e Guarapuava, com as terras demarcadas, oficialmente, desde o início do século passado [1901]. Foi a primeira do Sul do Brasil a ter este direito reconhecido [não sem sacrifícios, sem luta para continuar na terra – leia abaixo]. Embora atualmente estejam tranquilos em relação a isso, não deixam de ficar atentos ao que está acontecendo hoje no Brasil, em relação às polêmicas geradas pelo Marco Temporal.

“Somos solidários aos nossos parentes que lutam contra esta injustiça”, diz Neoli Kafy Rygue Olibio, 40 anos, que assumiu a Secretaria de Assuntos Indígenas, criada este ano pelo prefeito Fábio dos Santos, de Nova Laranjeiras. “Embora somos 30% do eleitorado do município, não tínhamos uma secretaria trabalhando por nós”, informa.

Ele, que é filho de pai que foi cacique, diz que a criação da secretaria foi um grande passo para que suas conquistas sejam ampliadas e efetivadas. “Afinal, a luta pelo reconhecimento dos nossos direitos tem que ser diária; há muito por fazer pelo bem-viver de nossa comunidade”, enfatiza.

No momento, segundo ele, estão reivindicando mais representatividade em todas as esferas. E para isso preparam mais lideranças: jovens, principalmente. “Fazemos questão de manter acesa nossa cultura, nossas tradições, mas a preocupação com o futuro das nossas crianças também é grande, o que nos leva a engajar o jovem nessa luta”, explica Neoli.  

Ele conta que a reserva sempre teve fortes lideranças, dentro ou fora do poder de Estado. Algumas ocuparam cargos de vereador, como o seu pai. “Eleito em 1991, meu pai José Kogmu Olibio foi o primeiro vereador indígena do Paraná e também o primeiro a ocupar a presidência da casa em Nova Laranjeiras”, orgulha-se Neoli.

Em relação à ocupação de espaço no legislativo, desde que Nova Laranjeiras foi emancipada, em 1990, sempre tiveram representantes. Depois do pai, foi a vez de Neoli legislar e na sequência entrou o atual cacique da aldeia-sede da TI Rio das Cobras, Angelo Rufino. Na atual gestão, são dois; um deles, Adão Krekanh Paulista, que também é o presidente da Câmara. 

“Nas próximas eleições pretendemos trabalhar para eleger pelo menos três representantes, entre eles uma mulher”, afirma. Nessa incumbência, pleiteiam também mais participação nos setores administrativos da prefeitura.

Outros setores entram nos planos, como formar brigadistas indígenas para combater incêndio e conscientizar sobre cuidados com o meio ambiente; e formar profissionais em diferentes áreas, para ocuparem os postos de trabalho gerados nas aldeias, como unidades de saúde e escolas. “Isso é fundamental para diminuir o desemprego nas aldeias”, considera o secretário.

A formação de professores indígenas já teve um avanço significativo: na escola principal da aldeia-sede funciona uma unidade da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), que oferece o curso de Pedagogia para Povos Indígenas. No ano passado formou 22 pedagogos. É a primeira do Brasil dentro de uma aldeia.

Embora a convivência entre indígenas e não indígenas é harmoniosa no município, Neoli diz que embates sempre surgem. “Há muito por fazer”, reafirma. “Os desafios territoriais foram resolvidos, mas temos o problema do alcoolismo, da alimentação escassa e pobre em nutrientes, do preconceito, da violação dos direitos da mulher indígena, enfim, uma gama de questões que nos obriga a ficarmos atentos e empenhados se quisermos dias melhores”, argumenta. E avisa: “Não queremos acordos políticos, queremos direitos”.  

Neoli, que é secretário de Assuntos Indígenas: trabalho direcionado para o bem-viver das famílias indígenas

Guerra declarada

Primeira do Sul do Brasil a ser demarcada, a história da Terra Indígena Rio das Cobras é marcada por muito suor e luta, travada para ter seu direito reconhecido pelo Estado. Entremeada por invasões de madeireiros, grileiros e outros intrusos, foi tensa, mas bem-sucedida.

Início do século 20, o Governo do Paraná oficializou a concessão das terras para os Guarani e Kaingang [decreto n.6 de 1901]. Não de graça. Segundo historiadores, a concessão teria sido o pagamento pelos serviços prestados pelos indígenas na construção de estradas da região.

Meados do século 20, o Governo do Paraná resolve revogar a lei, com a intenção de usar as terras para colonização. Argumento do então governador Moysés Lupion: “Os silvícolas são elementos negativos ao desenvolvimento da prosperidade material do Estado. Ceder-lhe mais terras é contribuir para a devastação maior de nossas matas, subtraindo áreas úteis à lavoura racional, para convertê-las em desertos improdutivos”.

Assim, deu aval para disputas. Políticos, empresários, fazendeiros, madeireiros, grileiros e posseiros estavam no rol dos que queriam tomar as terras, cerceando a população indígena. E foram tomando… Aos poucos, a área da reserva cairia de 19 para 3,8 hectares. Ou seja, perderam quase 90% do território.

O fato provocou a revolta dos Guarani e Kaingang, que iniciaram, então, a luta pela retomada, a primeira do Sul do Brasil. Um ataque aos índios por jagunços armados foi o fator decisivo.

Em 1978, declararam guerra: pintaram-se e armaram-se com arcos, flechas, facões e armas de fogo. Para isso, teriam se reunido 1,3 mil indígenas, com ações planejadas. No comando, estavam lideranças indígenas dos três estados do Sul do Brasil.

O conflito violento, que teve apoio importante do Conselho Indigenista Missionário e que mobilizou até o exército, além de centenas de policiais militares, estendeu-se por dois meses. Três mil posseiros foram retirados da TI Rio das Cobras, amparada, atualmente por decreto homologado em 1991.

A professora de história Elizandra Fygsanh Freitas, natural da TI Rio das cobras, diz que é importante a sociedade brasileira entender os clamores dos povos indígenas. “As maiores das populações indígenas desde há muito tempo vem sofrendo diversas formas de violência e discriminação por conta das terras que foram demarcadas e há ainda aquelas que não foram demarcadas; é necessário que as pessoas compreendam o processo histórico da luta pela terra, afinal somos povos originários”, assegura.

E acrescenta: “Muitas vezes somos criticados por termos um território demarcado, por ser grande, porém muitos desconhecem o suor que foi derramado na construção das estradas para que a Terra Indígena Rio das Cobras fosse ‘comprada’ pelos nossos ancestrais… Diante disso, temos que valorizar a nossa história, nosso espaço, cuidando e preservando a cultura indígena”.

Professora Elizandra, da TI Rio das Cobras: povos indígenas são povos originários e por isso devem ser respeitados



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